Anil Taneja,
Quando 2024 começou, havia uma expetativa generalizada de que este ano seria um pouco melhor para a indústria da pedra. Parte deste sentimento positivo provinha simplesmente do otimismo natural com que as pessoas saúdam o novo ano. Mas outras razões foram apontadas:
A) O abrandamento das compras dos importadores de pedra no segundo semestre de 2023 foi atribuído basicamente ao excesso de stock, algo que já teria terminado nesta altura.
B) Sendo este um ano de eleições presidenciais nos EUA, presumiu-se que, magicamente, a inflação cairia e também as taxas de juro, baixando assim as taxas de hipoteca e, portanto, dando um novo impulso às obras de renovação e à atividade de construção.
No entanto, com o ano de 2024 quase a chegar a meio, as coisas não correram como muitos esperavam. Sim, a economia dos EUA é muito forte, o desemprego está nos níveis mais baixos das últimas décadas. Mas há também outros factores relevantes em jogo e, no mundo incerto de hoje, é difícil prever o que mais se avizinha.
As taxas hipotecárias a 30 anos (típicas nos EUA) continuam a rondar os 7%. Isto significa que quem está preso a uma taxa de hipoteca de 3% na casa atual não tem qualquer incentivo para vender e mudar para outra casa, uma vez que a nova taxa de hipoteca seria de cerca de 7%, o que levaria a um enorme aumento dos pagamentos mensais. Esta simples realidade tornou-se um grande travão às vendas de casas existentes. Em 2024, as vendas de casas existentes registaram uma descida anual de cerca de 4%. A renovação é normalmente feita quando alguém muda de casa, o que leva a um aumento da procura de materiais de construção - e este número reduzido de transacções de casas existentes significou uma menor procura de pedra natural.
A inflação elevada também se tornou um entrave à construção de novas casas e não apenas à venda de casas existentes, uma vez que os custos de todos os factores de produção estão a aumentar significativamente. Isto traduziu-se numa menor oferta de casas novas no mercado. Os números relativos a estes factores também mostram um certo declínio na construção de casas novas em 2024. A menor oferta levou ao aumento dos preços das casas, tornando a acessibilidade económica uma questão importante. (O problema da acessibilidade económica tornou-se também uma questão séria em muitos outros países).
Em 2024, todo o dinheiro extra que as famílias tinham acumulado durante a pandemia tinha sido gasto durante os anos de 2021 a 2023. Foi esse dinheiro que criou o boom das obras de renovação e foi esse dinheiro que manteve a indústria forte, mesmo quando os custos de transporte de materiais da Ásia, Europa e América do Sul dispararam, muitas vezes por um fator de 10. Lembram-se dos dias em que havia escassez de contentores e os custos de transporte chegavam a ultrapassar os 12 000 dólares em algumas rotas?
Depois, há o fenómeno do trabalho em casa, que se consolidou após a pandemia, o que levou a um grande número de escritórios vazios em muitas partes dos EUA - portanto, há menos construção também neste segmento.
Portanto, é uma situação única nos EUA - a economia é forte, o desemprego é muito baixo, mas a atividade de construção relacionada com a pedra natural e outros materiais de construção, que normalmente teria sido muito forte, como consequência, permanece fraca em comparação.
É importante notar que há uma verdadeira escassez de casas no país, segundo algumas estimativas entre 4 e 7 milhões. Por outras palavras, o rebentamento de uma bolha relacionada com compras especulativas e excesso de oferta não será um risco. No futuro, as taxas de juro poderão voltar a descer para cerca de 3 % (é o que se espera), o que deverá levar a um grande salto na atividade de construção de habitações e nas transacções de venda de casas existentes, o que, por sua vez, deverá levar a um enorme aumento da procura de placas de todos os tipos, de pedra natural e de pedra artificial. Mas ninguém pode prever quando é que isso vai acontecer. Outra incógnita é qual será a situação macroeconómica quando as taxas de juro voltarem a ser baixas, ninguém quer que seja uma recessão.
É claro que nem toda a gente quer mudar de casa e, de vez em quando, as pessoas fazem obras de renovação na sua casa atual. Este segmento do mercado não é relativamente afetado pela inflação, uma vez que não há necessidade de negociar uma nova hipoteca. Com a economia americana forte, a renovação de casas existentes mantém-se dinâmica e mantém toda a gente mais ou menos ocupada. Este segmento também não é tão sensível aos preços, o que explica o aumento das importações de quartzito do Brasil. Os exportadores brasileiros notaram um aumento acentuado nas exportações principalmente de quartzito) para os EUA nos primeiros 5 meses de 2024, para US $ 290 milhões, em comparação com US $ 236 milhões em 2023. As importações de placas de quartzo nos primeiros 4 meses de 2024 mostraram um aumento de mais de 20% em relação ao ano anterior em volume, medido em metros quadrados, mas apenas cerca de 10% em valor, sugerindo preços em declínio, de acordo com dados compilados pela StoneUpdate. Os dados fornecidos pela StoneUpdate também mostram um declínio geral do granito em cerca de 5% nos quatro meses de 2024 e um declínio mais modesto de 2% para o mármore, em comparação com 2023.
A partir de junho, o mundo financeiro prevê apenas uma pequena descida das taxas de juro em 2024. Isto significa que há poucas hipóteses de a construção de novas habitações aumentar e de as renovações relacionadas com a mudança de casa crescerem em volume.
Com toda a incerteza que reina no mundo (duas guerras e o conflito no Mar Vermelho que afecta a navegação), os importadores de pedra tornaram-se cautelosos nas suas compras. As fábricas de pedra em todo o mundo notaram que há menos planeamento de encomendas para entrega com vários meses de antecedência, é como se os grossistas estivessem a fazer malabarismos com as suas necessidades de abastecimento, mês a mês. A volatilidade das taxas de transporte também não ajuda. Embora as taxas de envio rondem os 3000 a 4000 dólares por contentor, muito menos do que os mais de 10000 dólares durante 2022, continuam a ser mais elevadas do que a média de 1000 dólares ou menos a que estavam habituados. As taxas de envio de países como o Vietname, a Tailândia e a Malásia para os EUA, por exemplo, situam-se atualmente em cerca de 6000 dólares por contentor em meados de junho.
As preferências dos clientes também revelam uma procura constante de travertino, o que está a manter as pedreiras na Turquia e em Itália ocupadas. A procura de quartzito em tons de verde também aumentou; de facto, em geral, o verde está de novo na moda em todo o lado. Os padrões cinzento/branco continuam a vender.
2024 é, portanto, mais um ano em que as unidades de transformação de pedra no mundo, orientadas para o mercado dos EUA, têm dificuldade em compensar em vendas o que perdem noutros mercados, uma vez que a economia mundial, de um modo geral, continua fraca. O motivo para otimismo, então? Faltam apenas 6 meses para um novo ano.
NOTA: Agradecemos ao Sr. Cid Chiodi Filho e ao Sr. Emerson Schwartzkopf pelas informações fornecidas.
